Alex é um desenvolvedor de software solteiro com seus 20 e poucos anos, e decidiu usar o Tinder pra encontrar o amor de sua vida, quando apareceu uma morena que lhe agradou segundo a aparência, fazendo com que ele arrastasse a foto dela pra direita, sinalizando seu interesse. Como ela fez a mesma coisa, um "match" foi formado, e uma janela para os dois conversarem foi aberta.
A morena, uma "10/10" pra Alex, gíria usada pra dizer que alguém tem todos os atributos perfeitos segundo os seus parâmetros, disse na conversa que "quebrou" um tempo atrás, ou seja, ficou sem grana. "Pra ser honesta, eu só queria passar um tempo gostoso com alguém. Espero que eu não esteja no app errado".
O desenvolvedor de software pensou ter faturado um jackpot, e respondeu todo seguro de si: "não acho que esteja", e um emoji piscando. Ela perguntou o seu endereço, e ele mandou imediatamente. Talvez tenha até começado a arrumar sua casa desesperadamente enquanto procurava uma Gilette.
Ela estava a 40km de distância, e parecia animada em vê-lo. Ele nunca suspeitaria que fosse um robô. Mas as coisas começaram a ficar estranhas quando ela começou a pedir que ele confirmasse sua identidade pra que ela se sentisse segura em ir.
Segundo a morena, tudo o que ele precisava fazer era digitar o seu CPF num site que ele nunca ouviu falar, e ela esclareceu que se tratava de um sistema de segurança do Tinder. Foi aí que caiu a ficha do Alex: ele estava sendo seduzido por um robô ladrão.
O site Better Business Scam Tracker, que rastreia golpes aplicados online dos mais diversos modos, informa que no último ano os golpes realizados em aplicativos de relacionamento aumentaram em 20%, e a tendência é que aumente mais ainda esse ano, com o aperfeiçoamento dos chatbots.
Já o centro de denúncias de crimes cibernéticos do FBI recebeu no primeiro semestre de 2020 o mesmo número de denúncias relacionadas a chatbots fraudulentos em app's de relacionamento do que o recebido em 2019 inteiro.
Em 2019, golpes relacionados a falsos romances, seja por e-mail, seja por chat em redes sociais, seja nesses app's, custaram aos estado-unidenses 475 milhões de dólares (ou 2.501.000.000 reais).
De acordo com Thomas Papageorge, chefe da Unidade de Proteção ao Consumidor do Escritório da Procuradoria de San Diego, a maior parte dos casos é catfishing, ou seja, sedução com perfil falso (e agora robôs), e sugar daddies falsos que prometem suporte financeiro e acabam virando o jogo ("me manda 200 reais pra provar que você é real, etc").
Ainda segundo Thomas, aplicativos de relacionamento como o Tinder se tornaram um lugar comum pra quem está solitário e ansiosamente procurando companhia, o que faz com que a pessoa raciocine mesmo quando se deparam com a "pessoa perfeita" dando em cima de você. Afinal, com o aperfeiçoamento dos chatbots, está ficando difícil diferenciar uma conversa real de uma conversa computadorizada.
Outro programador, chamado Fred, precisou de duas horas de conversa até perceber que se tratava de um robô. "A primeira metade da conversa parecia mais interativa. O bot falava coisas como 'eu posso até te buscar, mas você vai ficar me devendo uma massagem'". Depois veio a questão da confirmação de identidade, mas as mensagens eram tão reais, interagindo com suas respostas, que ele quase enviou suas informações ao site que o robô mandou.
Após um tempo, ele desistiu, pois parecia que os apps estavam infestados de bots. Ainda assim, o Tinder insiste que é "à prova de bots". Um porta-voz do Tinder disse que encoraja os membros a denunciarem qualquer usuário que pedir informações financeiras, e que oferece serviços pra identificação de bots, como uma confirmação que a pessoa faz pra ter seu perfil validado pelo app.
Mas pelo jeito não está funcionando. Então eis que chegamos na época em que robôs estão roubando tarados.
Fonte: Mel Magazine